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Namastibet

     

, 20:08

te saludo Transhumante

Publicado por namastibet  |  0 comentarios




Fantasmas e javalis ou um poema de longo curso

Dormira acarinhado pela noite amena, ali prximo, a poucos quilmetros de Andorra, agora era acordado pelos grunhidos dos Javalis, o Transhumante assustou-se ainda um pouco mas no demorou muito a lembrar-se onde estava; voltara ao GR 11 para tentar terminar o que comeara quatro anos antes, no ano de 2009, em Irun .
Dava agora mais valor que h anos atrs s pequenas ocorrncias dirias, talvez a falta de acontecimentos o fizesse valorizar mais os sons os cheiros ou os encontros casuais com os escassos caminhantes ou montanhistas.
Actualmente encontrava-se no Vale de Madriu, muito perto de Andorra e sua volta os javalis esforavam-se por manter o terreno chafurdado como era seu hbito.
Demorara cerca de cinco horas desde a partida de Lisboa em avio, fez escala em Barcelona na manh quente de sbado,15 de Setembro de 2012 e ainda fazia calor apesar de cair a tarde, estava um calor abafado e sem vento quando chegou a Andorra de Autocarro, tempo apenas de comer no primeiro bar de comida rpida, ainda tentou recomear onde tinha finalizado em 2011,em La Guingueta DAneu, mas em vo, o prximo bus apenas seria na segunda-feira, dois dias depois.
As grandes cidades no lhe despertavam muito interesse, mesmo aquela magnfica "Babel" com as torres de Gaudi.
Lembrava-se bem do vale de Madriu, isso sim, j tinha passado por aqui com um amigo o J.J. Portela h bastantes anos atrs, mas ainda se recordava dalguns pormenores do percurso, onde tinha tirado uma ou outra fotografia, dos lugares e fontes onde bebera uma boa gua, cristalina como diamante, lagoas de azul-turquesa, lembrava-se todavia das montanhas que no mudam muito, mudam-nos a nse muito essencialmente por de dentro.
Uns grupos de escaladores Catales (pareciam escaladores pelo aspecto) na cabana "dels esparvers" recomendam-lhe de uma forma pouco simptica que procure outro refgio pois aquele encontra-se lotado, a resposta foi igualmente fria e este disse-lhes que no precisava de tecto para dormir, qualquer recanto da floresta seria a sua casa nos prximos dias.
Perguntaram-lhe o que estava fazendo ao que o Transhumante respondeu que tencionava acabar o GR 11 em quinze dias; a resposta foram gargalhadas, pois que isso no era possvel j que o dolo da Catalunha e qui mundial e amigo pessoal destes, Kilian Jornet o havia feito em sete dias e os quinze, seria at mesmo assim impensvel, at para um fantasma e os Pirenus estavam pejados delesde fantamas e intrujes.
Ficaram mais aliviados quando lhes disse que todos estes Quilmetros, os estava fazendo mas em suaves etapas anuais.
Era noite quando alcana finalmente o refugi Engorgs e acende uma fogueira, cerra a porta e deixa-se adormecer pela segunda noite na montanha alta.
Mais uma manh magnfica f-lo lembrar que o tempo estvel em montanha no pode durar muito, sabe que em breve ter borrasca e ele est demasiado exposto aos elementos e sem qualquer apoio para menosprezar a segurana.
Pernoita seguidamente no enorme mosteiro do vale de Nria,chega muito tarde e cansado ao meio de muitos turistas que o miram, tinham subido no trem de cremalheira desde Queralbs, estavam limpos e perfumados ao contrrio dele, mas o banho merecido limpa-lhe a alma e um novo Transhumante que se faz ao caminho na manh seguinte por um caminho denominado "via dos engenheiros" onde o perigo espreita bem l no fundo da falsia, tinha de no olhar para baixo.

Nesse dia um sol admirvel e uma madrugada mansa, limpam-lhe a mente e o caminho at Malnu (onde viveu Kilian Jonet) alcana Puigcerd mas no consegue chegar at planoles nesse dia, planeava dormir num camping a existente mas de novo encontra lugar entre os seus amigos javalis no Bivoac "azul cor-de-tempestade" mas numa benvola floresta de pinheiros e accias recordava-se do trajecto de outros anos e das tempestades nesta serrania que podem assustar o mais arrojado dos homens e mesmo os Transhumantes no esto a salvo dos fantasmas do medo.
No dia seguinte, entre Dorria e Planoles mais um encontro, desta vez com um caminhante sobrecarregado, pergunta-lhe o Transhumante da razo de ir to pesado; a resposta foi imprevista, disse-lhe que iria passar muitos meses na montanha fazendo o percurso inverso dele, comeara em Cap-de-Creus e iria terminar no em Irun mas noutro lugar da pennsula Ibrica , talvez Finisterra ,ou Nxia atravs do Caminho de Santiago francs ou mesmo Lisboa ou Faro, perguntou ao Transhumante qual a sua opinio sobre o melhor percurso, este disse-lhe que pelas Astrias, o chamado "Camio del Norte", seria uma melhor opo pela a beleza da paisagem embora de inverno fosse de muito difcil progresso devido neve e nevoeiros intensos.
Depois de Almoar bem em Planoles num bom restaurante ( o referido camping estava fechando)ainda consegue alcanar Nria no fim de dia, corre atrs do sol que teima em esconder-se por detrs dele e projecta uma sombra de onde no consegue sair por mais que corra, e que suba naquele horizonte rido e maravilhoso, estava junto ao ponto mais alto da catalunha "o Puigmal" ,o ponto mais elevado do, possvel mente mais jovem pas do mundo,"A Catalnia" ou Catalunha. Para os "amigos".
Distingue-se ao longe uma primeira grande massa escura de nuvens, como que atradas por ele, espectros negros que o perseguem vindos de outras pocas de guerras civis, Hemigways e contrabandistas.
Para o trasnhumante, assim como para os fantasmas no havia fronteiras nem parerdes, a vida flua e era como um poema de longos discursos com ele mesmoe com os emboados fantasmas.
Ao fim da manh estava em Setcases com os sinais de tempestade mais prximos, mais tarde resolve sentar-se com os velhos e velhas na taberna da aldeia, conversam sobre rituais antigos e praticas de transumncia h muito abandonadas mas que no esquecem pela liberdade que usufruam na montanha.
Dizem lhe tambm ser muito perigoso continuar naquelas condies, contam-lhe do ultimo inverno em que morreram de frio num mesmo local onze alpinistas no mesmo percurso que ele iria iniciar, ainda tenta durante a tarde continuar, mas regressa cavaqueira de caf a as historias da transumncia at cair de cansao numa cama de "hostal" no virar da esquina
Foi calorosa a separao, com os velhos transumantes que de manh cedo estavam pousados no mesmo stio no mesmo sonho e comea, j em passo de corrida o que at a tinha feito em passo rpido, confiava mais no p direito que tinha torcido um ano antes e muitas vezes torcia com dores terrveis mesmo enquanto corria ou andava simplesmente a p, depressa chega a aldeia de moll.
Depois foi Beget com uma linda igreja Romnica e Albany foi o prximo ponto de passagem com Sant Aniol daguja no centro de uma vegetao tropical e uma humidade de cem por cento, de perder o flego, mas recupera-o depressa a poucos quilmetros de Albany, na vertiginosa descida duma interminvel estrada de cimento, quando v pela primeira vez o Mediterrneo, pondera ainda se no ter chegado a hora de terminar aquele sofrimento fsico, segredam-lhe de manso no ouvido para continuar mas ele inutilmente mira sobre o ombro tentando ver sombra ou espectro mas nada, apenas a floresta, agora bem mais seca e amarelada pelo inicio de Outono.
Almoou na casa de um campons que escrevera na porta em letras toscas "servimos bebidas e refeies",
Regara bastante bem a "botifarra," o feijo branco e a salsa com um bom vinho caseiro, sentia-se tonto quando passou por ele,pouco depois um casal de ciclistas (faziam o percurso contrrio tentando chegar a Irun num percurso por vezes paralelo quando no o mesmo, mas mais propcio para bicicletas de todo o terreno ) perguntam-lhe se estava bem , sim; respondeu :
-estava melhor que nunca e continuou sorrindo de satisfao enquanto se afastava cambaleando em direco ao "mar-do-outro-lado".
Era tarde de quinta-feira e o voo de regresso seria no domingo seguinte, bem cedo; havia que fazer concesses e em boa hora o pensou porque uma boleia para Lan o deixa mais confortavelmente prximo de Cap-de-creus e do destino, do ponto de encontro com os ancestrais que o perseguiam desde Irun, desde que comeou caminhando no mar-de-cima.
Compreende agora por que razo este foi o ponto de encontro escolhido, a paisagem torcida e retorcida, esburacada at, pelos ventos e mars, criando uma sbita catarse de estilos e sentidos que no tem igual no mundo,
Lembrou-se de uma frase de Plato, "s os mortos conhecem o fim do mundo" e aqui parecia-lhe o mundo do fim do mundo e perguntou-se: -"se no estaria morto".
Em Port-de-La-Selva conheceu um simptico casal que o acompanhou, falavam demais e interromperam as conversas que vinha fazendo consigo mesmo, ao longo do caminho todo desde Irun,
Sentia-se incomodado mas deixou correr os acontecimentos, afinal era assim que decidira viver, como Trashumante, ao sabor do ar e das torrentes do tempo, domando criaturas e paisagens. Umas mais rsticas e pacatas e outras mais cleres e aladas como aves gritantes.
Foi um individuo aliviado que chegou finalmente a Creus e a Cadaqus a povoao escolhida por Dali, Picasso, Gaudi e muitos outros para tertlias sazonais.
Sentia pouco profundo, o apenas ter feito um trilho comprido, nada mais, apenas um comprido e inesttico poema sem mtrica.
Os fantasmas no compareceram ao encontro, ficaram pelos montes com medo da "tramutana" (vento norte desta latitude que afasta as tempestades vindas do Pirinu Catalo) esperava senti-los mais prximos da pele noutro continente, em Xian, quando iniciasse a rota da seda em bicicleta ou talvez nas tempestades de areia do deserto do taklamakan, que costumam soterrar estradas, caminhos e viajantes oportunistas.
Provavelmente o Transhumante ficaria nos Pirenus e regressaria de novo a Irun ou Hendaye pelo mesmo trilho mas agora a ss, no me agradava a ideia de voltar a percorrer com ele outra e outra vez o mesmo cenrio os mesmos calhaus e precipcios e os mesmos sonhos extintos.
Prestou ali mesmo, no farol do cabo de Creus, homenagem aos homens que conduziam o gado dos pontos mais altos dos Pirenus no inverno at as plancies da erva, "os Transumantes ", A transumncia foi uma prtica h muito finda, para dar lugar a uma mera indstria turstica que flagela as encostas desta soberba serrania com um excesso de pistas de esqui e uma paisagem lunar de dar medo at a um Transhumante, como tinha orgulho em se considerar ( EU TE SADO TRANSUMANTE )

Jorge Santos
(Setembro 2012)



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Sobre este Blog
Blog creado por namastibet el 13/09/2012

A ROTA DA SEDA A ideia em seguir de bicicleta a rota mercantil primordial da humanidade, tinha-se adaptado imaginao, durante anos como uma lapa ou um crustceo nas rochas, Jo (o Transhumante) pensou ser chegado o momento de partir....


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